Embora pareça recente, a expansão da NFL pelo mundo começou há mais de 30 anos. Nos anos 1990, foi criada a NFL Europa, um campeonato separado com equipes regionais em cidades como Londres, Barcelona e Frankfurt, funcionando como uma liga de desenvolvimento para jogadores da NFL. Embora tivesse mais times da América do Norte compondo a liga do que propriamente na Europa, a liga não fez sucesso no continente americano e tinha um público já fidelizado no Velho Continente. Após uma pausa de dois anos, a NFL Europa retornou apenas com equipes europeias.

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A NFL Europa seguia regras próximas às da NFL, mas trazia mudanças experimentais para atrair fãs de futebol e rugby. As equipes da NFL eram incentivadas a enviar jogadores, ganhando vagas extras no elenco de treinamento. Cada time também precisava ter jogadores locais, que geralmente eram ex-jogadores de rugby ou futebol, atuando como punters ou kickers. A pequena liga seguiu ativa até o ano de 2007.

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Confira abaixo as equipes europeias que fizeram parte da NFL Europa após a liga passar a ser composta exclusivamente por times europeus: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Dois anos antes de terminar a primeira tentativa de expansão, a NFL já havia realizado seu primeiro jogo oficial de temporada regular fora dos Estados Unidos. Em 2 de outubro de 2005, Arizona Cardinals e San Francisco 49ers se enfrentaram no lendário Estádio Azteca, na Cidade do México, em uma partida do Sunday Night Football, que terminou com a vitória dos Cardinals por 31 a 14.

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Com o fim da NFL Europa em 2007, a NFL começou a realizar jogos oficiais de temporada regular em Londres, principalmente no Wembley Stadium, estádio da seleção inglesa, até a inauguração do Tottenham Hotspur Stadium, já projetado com contratos para receber partidas da liga. Londres é, de longe, a cidade que mais sediou jogos fora dos Estados Unidos. Até a temporada de 2024, foram 34 partidas: 22 em Wembley, 9 no Tottenham Hotspur Stadium e 3 no Twickenham Stadium, estádio de rugby. A forte presença da NFL no Reino Unido se justifica pela popularidade do rugby, que rivaliza com o futebol da bola redonda em audiência.

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O México esperou 11 anos para receber novamente um jogo da NFL e sediou cinco partidas até 2022, mas deverá retomar apenas após a Copa do Mundo de 2026, devido às reformas no Estádio Azteca. O Canadá também foi palco de jogos, mas sem grande impacto. Em Toronto, maior cidade do país e casa do Toronto Raptors, único time não americano na NBA, os jogos ocorreram no estádio dos Toronto Blue Jays, da MLB, entre 2008 e 2013, totalizando seis partidas. No entanto, o interesse pelo esporte não explodiu para que voltassem ao país. Possivelmente, a proximidade de Toronto com Detroit e de Vancouver com Seattle seja suficiente para abastecer os fãs canadenses da liga.

 

Em 2022, a Alemanha entrou no radar da NFL. Potência econômica e tradicional no futebol e em outros esportes, a o país recebeu quatro jogos em duas cidades diferentes: Munique e Frankfurt. Arenas apropriadas para receber grandes eventos não é um problema para o país que sediou a Copa do Mundo de 2006. Em Munique, os jogos foram na Allianz Arena, casa do Bayern, e em Frankfurt, no Deutsche Bank Park, casa do Eintracht.

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E, finalmente, chegamos ao Brasil. Segundo Lucyen, um dos pioneiros na criação de conteúdo sobre a NFL no país, a liga já havia tentado realizar um jogo no Maracanã em 2016. Na época, Cairo Santos, kicker brasileiro da NFL, veio ao Brasil e participou de treinos com jogadores locais, e um experiente gestor de marketing da NFL liderava o projeto. No entanto, o plano foi barrado por uma questão tributária: a liga buscava isenção fiscal, mas o governo federal, por motivos legais, não concedeu o benefício, e a NFL decidiu recuar.

 

Depois dessa tentativa, a NFL estabeleceu uma base oficial no Brasil, contratando a agência Effect Sport, especializada em conteúdos esportivos, para criar e gerenciar os perfis oficiais da liga e desenvolver uma base de fãs. Lucyen acredita que, se a NFL tivesse vindo ao Brasil em 2016, o evento teria sido um fracasso, pois a quantidade de fãs ainda era muito menor do que hoje, quando o país já conta com 41 milhões de entusiastas da NFL.

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Ao longo dos anos, o público cresceu, impulsionado pelos fatores mencionados anteriormente, e a liga foi se consolidando. Embora continuasse a realizar jogos em Londres, no México e, mais recentemente, na Alemanha em 2022, a NFL nunca perdeu o Brasil de vista. Com o Estádio Azteca em obras para a Copa, limitando jogos no México pelos próximos quatro anos, a liga precisou expandir suas opções para novos mercados.

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Gustavo Pires, CEO da SPTuris — órgão de turismo de São Paulo vinculado à prefeitura — relatou que, desde 2021, a cidade demonstrou claramente seu interesse em receber um evento da NFL, inicialmente para  NFL Brasil. Em 2022, São Paulo reafirmou essa intenção, agora para a NFL Global. Gustavo, grande entusiasta dos esportes americanos, considerava trazer a NFL para a cidade um sonho desde que assumiu seu cargo.

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Antes de confirmar a realização do jogo, a SPTuris organizou eventos para avaliar a popularidade da NFL na cidade. O primeiro deles foi o NFL In Brasa, um parque temático de futebol americano que oferecia experiências esportivas, gastronômicas e musicais, com o ponto alto sendo a transmissão do Super Bowl no local. Realizado em 2023 e 2024, o evento foi um sucesso em ambas as edições.

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A SPTuris também realizou o evento Touchdown São Paulo, uma watch party gratuita onde os torcedores puderam assistir a jogos dos Playoffs em telões, aproveitar música com DJ e food trucks no local. A primeira edição ocorreu em janeiro de 2024, em um domingo de jogos do Wild Card, e a segunda, duas semanas depois, com as finais de conferência da NFC e AFC..

 

Durante as negociações, acompanhando Gustavo, a NFL realizou visitas confidenciais aos três principais estádios da cidade: Morumbi, Allianz Parque e Neo Química Arena. Embora a liga tenha demonstrado interesse nos três locais, Gustavo explicou que a escolha recaiu sobre a Arena Corinthians, que, apesar de não ser a maior, com capacidade para cerca de 47 mil pessoas, oferecia a melhor estrutura, infraestrutura e logística para o evento.

 

Outra grande novidade foi a definição do jogo para a Semana 1, marcando a abertura da temporada da NFL em setembro. Esse planejamento levou em conta o clima; em outubro e meses seguintes, o calor em São Paulo seria intenso e incomum para equipes acostumadas ao frio. Setembro, por outro lado, é primavera no Brasil e outono no hemisfério norte, ainda com temperaturas amenas.

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Em fevereiro de 2024, foi anunciado que o Philadelphia Eagles viria a São Paulo. Um dos critérios para escolher as equipes era que não tivessem disputado jogos internacionais na temporada anterior. Lucyen revelou que a NFL inicialmente considerou realizar o jogo de kickoff no Brasil. Segundo Gustavo Pires, a liga desejava que a primeira partida da temporada, tradicionalmente realizada pelo time campeão em casa, fosse no Brasil. Porém, durante as negociações, nenhuma equipe classificada no Wild Card que não havia jogado fora dos Estados Unidos aceitou abrir mão de estrear em casa, caso vencesse o Super Bowl.

 

No fim, os Chiefs venceram o Super Bowl e, por terem jogado contra os Dolphins na Alemanha em 2023, não estavam elegíveis para uma partida internacional em 2024. Surgiu então a ideia de realizar o jogo no Brasil em uma sexta-feira, algo inédito, tornando essa uma data especial na história da NFL. A decisão foi por um jogo em horário nobre, um dia após o kickoff, em São Paulo. Esse formato, junto com a transmissão nacional pela ESPN, RedeTV! e CazéTV e a exibição em horário nobre nos Estados Unidos, fez com que o jogo no Brasil se destacasse e fosse tratado com uma importância única, diferenciada dos eventos em Londres, Alemanha ou México. Foi um verdadeiro presente da NFL para o público brasileiro.

 

Em 10 de abril de 2024, foi confirmado que o Green Bay Packers seria o adversário do Philadelphia Eagles no jogo no Brasil. As vendas de ingressos começaram com uma pré-venda em 10 de junho, seguida pela venda geral em 13 de junho, e esgotaram em poucos minutos em ambos os dias. Além disso, uma quantidade limitada de ingressos foi destinada a torcedores americanos dos times.

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Na semana do confronto, vários eventos animaram a cidade antes do jogo. Na véspera, as torcidas brasileiras dos Eagles e Packers organizaram encontros para assistir à abertura da temporada da NFL, na quinta-feira (5). O evento dos torcedores dos Eagles contou com a presença especial do ex-jogador e atual executivo da equipe, Connor Barwin, além das cheerleaders e do mascote oficial do time, o Swoop.

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As equipes, que vieram em voos diretos, mas separados, chegaram durante a quarta-feira no Aeroporto de Guarulhos. Foram recebidas já pelos torcedores e puderam viver a experiência de um jogo no Brasil logo na chegada. Mas, durante a semana que antecedeu a viagem, na Philadelphia, uma onda de desinformação surgiu sobre a segurança na cidade paulista em uma coletiva de imprensa dos Eagles. O recebedor AJ Brown falou que os jogadores foram chamados para uma reunião cheia de determinações de “não façam isso”, o que mudou seu plano inicial de aproveitar a viagem, escolhendo focar apenas no jogo e voltar. O jogador da linha ofensiva dos Eagles, Nick Gates, falou que a viagem era sobre ir, ficar no hotel, vencer um jogo e voltar, sem ter contato com a sociedade.

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Nas redes, o jogador CJ Gardner-Johnson repostou informações falsas sobre queimadas, ondas de crimes e surtos de saúde em São Paulo, questionando a segurança de jogar lá. Fãs norte-americanos questionavam a decisão da NFL de realizar uma partida no Brasil e acreditavam que os dois times não poderiam usar suas cores primárias, o verde, por ser associada a uma suposta gangue. Na realidade, isso estava ligado apenas à rivalidade entre Palmeiras e Corinthians e pelo fato do jogo ser realizado na casa do alvinegro.

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Então, os Eagles como mandantes, divulgaram que iriam jogar com uma adaptação de seu uniforme. Os detalhes em verde escuro foram removidos do uniforme branco, sendo substituídos por preto. O capacete, originalmente verde, também seria alterado para preto, assim como a calça. Todo o conjunto formaria uma inédita versão alvinegra para a equipe. A decisão veio a partir de um pedido informal do Corinthians, dono do estádio onde a partida seria realizada. Os Packers, como visitantes, estavam liberados para usar o verde tradicional com calças e detalhes em amarelo.

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A Arena Corinthians foi preparada pela NFL com uma ambientação de Super Bowl, com decoração feita pela mesma equipe que cuida dos detalhes do jogo final. Para marcar ainda mais o evento, foi anunciado um show no intervalo, algo que só ocorre em Super Bowls ou partidas de feriados como Thanksgiving. A escolhida para o show foi Anitta, a cantora brasileira de maior destaque internacional. Além disso, na semana do jogo, uma Fan Fest gratuita foi organizada em São Paulo, para oferecer uma experiência imersiva para aqueles que não conseguiram ingresso para o estádio.

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