Victor Hugo tem 29 anos e vive no Canadá, na cidade de Vitória, capital da província de Colúmbia Britânica. Formado em engenharia civil, ele também possui uma pós-graduação em Business Administration e, após se especializar, conquistou uma vaga de emprego no Canadá, onde reside há quase três anos. No Brasil, Victor é natural de Goiânia, capital de Goiás, e é torcedor do time que leva o nome de seu estado natal.
Desde sempre, Victor teve uma forte ligação com o esporte. Seu pai, Divino, é conhecido pelo apelido de “Goiás” por sua paixão pelo clube. Juntos, pai e filho frequentavam o estádio Serra Dourada.
Enquanto trocava de canal na TV, Victor se deparou com um jogo da NFL e viu uma chamada para uma próxima transmissão. Sem muito para fazer, ele decidiu parar e assistir. O primeiro jogo que Victor se lembra de ter assistido foi o Super Bowl XLII, em que o New York Giants venceu o New England Patriots, encerrando a temporada quase perfeita do time de Massachusetts. Na época, mesmo sem entender muito sobre o esporte, Victor achou o esporte sensacional.
Na temporada seguinte, o talento de Aaron Rodgers chamou a atenção de Victor. Era a primeira vez que o quarterback jogava como titular, após o anúncio da primeira aposentadoria de Brett Favre. Rodgers teve um desempenho muito sólido, com 28 touchdowns e 13 interceptações, o que lhe rendeu uma extensão de contrato de 6 anos, com um valor total de 65 milhões de dólares.
Victor conta que esse nem foi o momento de maior tensão que já viveu como torcedor dos Packers. Na temporada de 2016, Packers e Cowboys se enfrentaram no Divisional Round dos playoffs. Os Packers começaram muito bem, abrindo 21-3 no segundo quarto, embora essa vantagem tenha diminuído para 21-13 antes do intervalo. Logo na primeira campanha do terceiro quarto, Rodgers liderou o time para mais um touchdown, ampliando a vantagem para 28-13 diante de 80 mil torcedores no AT&T Stadium, em Dallas.
O placar se manteve até o início do último quarto, quando o novato Dak Prescott encontrou o veterano tight end Jason Witten com um passe na endzone, reduzinho a diferença para oito pontos. A defesa dos Cowboys entrou em ação e forçou um three-and-out — quando o ataque não consegue avançar dez jardas em três tentativas e devolve a posse com um punt. Em uma longa campanha de cinco minutos, Dak liderou o time para mais um touchdown. Para empatar o jogo, ele ainda correu e converteu uma jogada de dois pontos com o "mini-touchdown".
Rodgers voltou a campo e precisava dar uma resposta. Avançando e gastando tempo no relógio, os Packers chegaram até a linha de 38 jardas do ataque, o que permitiu a Mason Crosby converter um field goal longo de 56 jardas. Com 1:33 para o fim do jogo, os Cowboys precisavam pelo menos de um field goal para levar à prorrogação ou um touchdown para virar o placar. Sem utilizar o timeout restante, o time do Texas avançou rapidamente, chegando à linha de 33 jardas do ataque. Após um spike — ato de jogar a bola no chão para parar o relógio — e duas tentativas sem ganho, o kicker Dan Bailey foi acionado e empatou o jogo com um field goal de 52 jardas.
Restavam 35 segundos no relógio e os Packers ainda tinham dois timeouts. Não é uma boa ideia empatar o jogo e dar a Aaron Rodgers a chance de posicionar seu time para um field goal decisivo. Após uma primeira tentativa, Rodgers fez um passe lateral para Ty Montgomery, que avançou cerca de 17 jardas. Na jogada seguinte, a defesa dos Cowboys conseguiu um sack no quarterback dos Packers, forçando o uso de um timeout quando a equipe ainda estava na linha de 32 jardas do próprio campo.
Após o sack, Rodgers tentou um passe que foi incompleto. Em uma terceira descida para 20 jardas, com apenas 12 segundos no relógio, Aaron Rodgers escapou da pressão, se movimentou para a lateral esquerda e lançou um passe perfeito para Randall Cobb, que avançou 36 jardas. Cobb soltou os pés dentro do campo e caiu para fora, parando o relógio com três segundos restantes — o suficiente para que Mason Crosby tentasse um field goal de 51 jardas. Na primeira tentativa, Crosby acertou o chute no meio do "Y", mas os Cowboys haviam pedido um timeout para tentar “congelá-lo”. Quase deu certo, pois na segunda tentativa a bola parecia sair, mas fez uma curva e entrou no "Y". O relógio zerou, e o Green Bay Packers avançou para a final da conferência.
Aaron Rodgers é o grande ídolo de Victor na NFL. No entanto, ele admite que, em certo ponto, ficou aliviado com a saída do quarterback. Os últimos anos de Rodgers nos Packers foram desgastantes, em grande parte por seu comportamento e pela dificuldade de relacionamento com a equipe. Rodgers acabou ganhando a fama de “diva” — termo usado nos esportes americanos para jogadores que se consideram mais importantes que o time e que exigem um tratamento especial.
Victor também lamenta os últimos anos de Rodgers em Green Bay, especialmente porque o quarterback havia sido MVP e chegou perto do Super Bowl em 2019 e 2020. Em 2019, os Packers sofreram uma derrota avassaladora de 37-8 para o San Francisco 49ers na final de conferência, que dominou o time em todos os aspectos. A escolha de Jordan Love no draft, logo após essa derrota feia e enquanto Rodgers ainda estava no auge, foi um episódio revoltante para Victor.
Na temporada seguinte, em um jogo equilibrado em casa, os Packers perderam a chance de vencer Tom Brady e o Tampa Bay Buccaneers, também na final de conferência. Embora tenham conseguido duas interceptações em cima do GOAT, não conseguiram capitalizar em touchdowns. A dois minutos do fim, uma falha de comunicação e de postura entre Rodgers e o técnico Matt LaFleur levou o time a optar por um field goal, em vez de arriscar uma quarta descida em uma situação onde apenas o touchdown poderia empatar o jogo. Crosby converteu o field goal, diminuindo a diferença, mas os Packers não tiveram mais a posse de bola. Brady controlou o relógio, avançou com a bola, converteu algumas primeiras descidas e garantiu a vitória ao zerar o cronômetro.
Victor ainda se senta no sofá para assistir aos jogos do New York Jets neste ano, na primeira temporada completa de Aaron Rodgers em Nova Iorque, após uma lesão no tendão de Aquiles que o afastou no primeiro lance do jogo de abertura da temporada passada. No entanto, sua torcida agora está voltada para Jordan Love. Victor tem gostado de ver a evolução do jovem quarterback desde a metade da temporada passada até os playoffs. A eliminação para os 49ers na última temporada não diminuiu suas esperanças em relação ao futuro.
Quando Victor soube que haveria um jogo no Brasil, mesmo estando no Canadá, sua primeira reação foi: "Eu vou". Depois, começou a avaliar os preços e hesitou um pouco. Na manhã do dia 10 de abril, enquanto tomava café, a confirmação de que os Packers viriam para o Brasil chegou. No dia da venda dos ingressos, Victor ficou em home office, tentando comprar ingressos de diferentes computadores e navegadores. "Foi tão rápido que eu comprei o ingresso e só depois fui ver o setor, o preço e a localização do lugar que eu peguei."
Victor havia planejado tirar férias nos meses de setembro e outubro para ir a um casamento, mas acabou antecipando suas férias para o mês de setembro inteiro. No voo de Montreal para São Paulo, ele teve a chance de conhecer um senhor americano, um dos 500 mil donos dos Packers, que estava vindo do exterior para assistir ao jogo e que não perde uma partida da franquia. Na capital paulista, Victor se reuniu com um grupo de amigos que viajaram de Goiânia para ver o jogo. Foi a primeira vez que ele teve a oportunidade de assistir aos Packers ao vivo.
Quando os Packers entraram em campo com Jaire Alexander segurando a bandeira do Brasil, Victor ficou em êxtase. "Eu fiquei maravilhado com aquela cena. E ainda mais que os Packers usam as cores do Brasil, foi a realização de um sonho", comentou. Apesar da derrota e da lesão de Jordan Love, Victor saiu extremamente feliz. "Foi uma experiência espetacular, com um nível de organização que eu nunca imaginei que poderia ter no Brasil."
Para a próxima temporada, o goiano está se planejando para visitar a casa dos Packers, com o objetivo de assistir a uma vitória no Lambeau Field. "Quero escolher um adversário bem fraco para ver uma vitória e conhecer o Lambeau", diz ele. Outro sonho de Victor para o futuro é acompanhar os Packers durante uma temporada inteira. Ele pretende trabalhar de home office enquanto viaja, seguindo o time semana após semana e assistindo a todos os jogos, seja em casa ou fora.
Victor não gosta de comparar suas paixões pelo Goiás e pelos Green Bay Packers. Torcer para o Goiás é algo enraizado, que vem de seu pai, e por isso, não há como a paixão por Green Bay ser maior. No entanto, com o Goiás, não há muita inspiração ou expectativa de que o time seja realmente competitivo. Já com os Packers, ele sempre espera que o time vença, pois sabe que tem potencial para isso.
Para Victor, ser torcedor do Green Bay Packers é sentir-se parte de algo maior. O fato de o time não ter um proprietário e valorizar suas raízes é algo que encanta o brasileiro que mora no Canadá, assim como o fato de a cidade de Green Bay viver intensamente o time.
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De Goiânia, rumo à Green Bay


Victor Hugo se deslocou do Canadá para Saõ Paulo para assistir aos Packers. (Foto: Acervo pessoal)
Torcedor dos Packers que Victor flagrou no voo de Montreal para São Paulo. (Foto: Acervo pessoal)
Victor encontrou grupo de amigos que gostava de assistir NFL junto para a realização do sonho. (Foto: Acervo Pessoal)
Momentos decisivos do jogo entre Green Bay Packers e Dallas Cowboys, em 2017.